Costumo dizer que a história egípcia quando bem contada à moda romanceada dava uma belíssima novela.
Amor, traições, deuses, templos, ouro, grandiosidade… Enfim, tanto por admirar como tanto por descobrir.
Confesso que tenho imensos livros e enciclopédias, para além de ter estudado história de arte egípcia nos tempos de escola. Mas a maioria dos livros são frios, descritivos, e ok, leio para tirar dúvidas mas ler por prazer só mesmo quando romanceiam a história num bom livro. Aí devoro, entro no livro e estou lá, no Egipto, sou uma mosquinha que visualiza tudo à frente.
Obviamente para falar de Nefertiti e Akhenaton tive que consultar os factos em “algumas” enciclopédias que tenho mas se me permitem, vou tentar florear todo este período vivido neste época! Espero que gostem….


Comecemos por factos históricos.
Akhenaton nascido como Amenófis, como o seu pai Amenófis III, a sua mãe era a grande esposa real Tiy. Ele era o segundo descendente masculino do Rei e não estava destinado ao trono mas com a morte do seu irmão mais velho, Tutmés, Akhenaton herdou a sucessão a Faraó.
Nefertiti, filha de Aí, vizir, alto funcionário egípcio, ou Nefertiti com origem estrangeira, uma princesa do Reino Mitani, filha do rei Tusserata. Não se sabe em concreto, apenas se sabe que o nome Nefertiti significa “a mais bela chegou” e na minha opinião fez jus ao significado.
Temos que ter em conta que variadíssimas vezes na história egípcia verificam-se casamentos entre irmãos ou primos. O importante era garantir que a sucessão do trono fosse desta forma controlada e assegurada pelas raízes familiares.
Tendo em conta esta premissa, o mais certo é que Nefertiti fosse filha do vizir Aí, irmão da rainha Tié, mãe de Akhenaton e desta forma ambos seriam primos.
Alguns artigos também defendem que Nefertiti não seria a primeira esposa de Akhenaton mas sim a esposa principal.
Akhenaton subiu ao trono na XVIII dinastia, já no Império novo e reinou durante dezassete anos, provavelmente entre 1350 a 1333 AC.
Akhenaton é pai de Tutankamon com a rainha Kia (pensa-se primeira esposa) e teve 6 filhas com Nefertiti.
Não se sabe ao certo como faleceu. Alguns artigos defendem que adoeceu nos últimos anos de vida e que Nefertiti assumiu a sua posição de faraó; outros artigos defendem que provavelmente, tanto ele como a Nefertiti foram assassinados devido às suas convicções religiosas e por terem feito vários inimigos internos, fora as guerras com os países vizinhos. Enfim, tudo especulações baseadas em factos que encontramos e cada historiador interpreta à sua maneira. Por isso mesmo, o que escrevo aqui acaba por ter o meu cunho pessoal, é o que li de diferentes versões e é o que quero acreditar. A versão positiva e magnificente da história baseada em factos.
Caros leitores, este casal arrasou e tanto arrasou que ficou eternizado na historia. Há duas formas de ver a história!
Primeiro como Akhenaton, o mais frágil, o assassino do irmão que ansiava pelo poder salvaguardando-se por detrás de uma religião para se proteger e auto-intitular-se um Deus na terra ou, segundo, Akhenaton, o forte, o desafiador, que luta pelos seus ideais mas de certa forma egocêntrico e em tudo revolucionário e visionário, na arte, na arquitectura e na religião.
Para começar, todos os faraós eram representações dos Deuses na Terra, seria (e ainda é) a melhor forma de uniformizar massas e controlar o povo. Em todo o período do Egipto Antigo, os egípcios tinham muitos Deuses. Haviam Deuses nacionais, tais como Amon, Ptah e Ré e os Deuses locais de cada aldeia ou cidade. Haviam Deuses associados a alguns animais e também haviam Deuses relacionados com profissões ou aspectos da vida ou da morte (um pouco como os nossos Santos de hoje em dia). Com tantos Deuses, não admira que o Antigo Egipto estivesse coberto de templos e houvesse inúmeros festivais e celebrações (milénios à frente e afinal em tudo parecidos).
No período de reinado de Akhenaton este impôs uma única divindade como adoração, o Deus Aton, o disco solar, revolucionando todas as crenças até então e criando assim a primeira religião monoteísta do Antigo Egipto.
Conseguem perceber a luta que este casal travou? Ordenou que fossem apagados todos os nomes referentes aos Deuses anteriores e que fechassem os templos de adoração e tudo isto sem apoio convicto do exército.
Foram anos de tensão e de luta para instalar a supremacia de Aton. Contruiram novas estátuas, novos templos e uma nova capital para poderem fugir à pressão de quem vivia descontente com esta nova política regente.
Um novo estilo arquitectónico
Akhenaton criou um novo estilo de arte, o “estilo Akhenaton” ou o “estilo Amarniano” já que a nova capital se chamava Amarna. Este estilo caracteriza-se por ser muito naturalista e quebra todas as regras anteriores demarcadas pela solidez e imobilidade.
Amarna, a nova capital, parecia um mundo novo. A cidade não estava dividida socialmente como em períodos anteriores. Casas ricas podiam estar rodeadas de casas mais modestas. A partir de diferentes achados arqueológicos e das cenas que resistiram ao tempo, podemos dizer que Amarna estava um passo à frente, ou melhor, um milénio à frente do que arquitectónicamente tinha sido realizado até então!
As moradias estavam organizadas em quarteirões com ruas mais ou menos largas, dispostas em paralelo com o Rio Nilo, os edifícios e as casas nobres estavam ornamentadas com inúmeras árvores que proporcionavam sombra aos residentes, bem como tinham seus próprios poços de abastecimento de água. Havia também vários poços espalhados pela cidade destinados à população em geral. Este tipo de abastecimento de água não era comum nas cidades egípcias até então, logo aqui, pode-se ver sem dúvida que uma das preocupações de Akhenaton era o bem estar dos seus habitantes.
A família real
Foi também durante este reinado que apareceram as primeiras representações das princesas, filhas do Faraó e graças a essas representações foi possível reconstituir cronologicamente como a família foi aumentando. A família real é várias vezes representada em cenas quotidianas da vida familiar, bem como o mundo animal e vegetal o que leva a concluir a proximidade que tinham com o seu povo. Sabemos assim que Nefertiti foi mãe de seis princesas, Meritaton, Meketaton, Ankesenpacton, Nefernefermaton-Fasherit, Neferneferure e Setepenre.


Nefertiti e Akhenaton representam sem dúvida alguma os 17 anos mais intrigantes da antiguidade egípcia! E o mais fascinante disto tudo é saber que a qualquer momento todas as teorias podem cair por terra com alguma descoberta recente que venha a contrariar os factos conhecidos até então! Por exemplo: em 2004, descobriu-se um grafito em Deir Abu Hinnis (Médio Egipto) que ajudou a reconstruir o final do reinado de Akhenaton. Nesta inscrição o Faraó encontra-se ao lado de Nefertiti, no 16º ano do reinado, um dado que demonstra que a esposa principal continuava viva naquela época, um facto que até então se desconhecia.
Existem várias teorias em relação à morte de Nefertiti. Inicialmente pensava-se que tinha falecido antes de Akhenaton ou simplesmente afastada do trono já que se sabe que a filha Meritaton chegou a ser Grande Esposa Real durante os últimos três anos do reinado do seu pai.
O que se sabia de Nefertiti não ia muito além da morte de Meketaton, segunda filha do casal a falecer durante os anos do seu reinado. Do 12º ano até ao final do reinado de Akhenaton, faleceram Meketaton, Nefernaton-Tasherit, Nefernefernure e Setempenre. Estas mortes podem estar relacionadas com a reduzida esperança de vida mas também com a peste que assolou boa parte do Médio Oriente naqueles anos, ou teorias da conspiração, assassinadas pelos sacerdotes de Amon.
O sucessor do trono legítimo era Semencaré que aparece no final do reinado de Akhenaton convertido em co-regente do trono. E aqui voltam as teorias de quem foi Semencaré.
Se é um dos filhos de Aménofis III, pai de Akhenaton e neste caso irmão deste? Se seria marido de Meritaton e por conseguinte genro do Rei, adepto convicto da doutrina de Aton, razão pela qual Akhenaton, que não teria herdeiros masculinos escolheu-o para o suceder?! Ou se seria filho de Akhenaton com uma das esposas secundárias e desse modo herdeiro legítimo do trono? Ou seria na verdade um “pseudónimo” da própria Nefertiti que teria adoptado aparência e títulos masculinos para assumir o trono após a morte do marido? A favor desta teoria está o facto do nome Nefertiti deixar de ser mencionado na época em que aparecem referências a Semencaré! Não se sabe ao certo, o que é certeza é que somente se regista Tutankamon como filho homem de Akhenaton.
Um aparte…
Não acham que mesmo com teorias, conspirações romanceadas, consegue-se saber tanto da vida de uma pessoa pelas suas representações e pelos seus feitos na terra? Mais de 3000 anos depois estou eu aqui a escrever um artigo da vida deste casal, que no tempo deles foi escrita em gravuras de pedra, tal como uma revista “cor-de-rosa” escreve sobre a actualidade. A única diferença é que os “novos” famosos são pessoas comuns e não Reis ou Faraós, nem constroem cidades para o bem estar do povo.
Voltando ao assunto, que o texto já vai longo! Mas factos são factos e tem que ser descritos. Tentei compilar toda a informação que recolhi…
O que se sabe do final do reinado destes dois?
Segundo a inscrição descoberta em 2004, Semencaré não sucedeu a Akhenaton porque faleceu pouco antes de tal forma que Akhenaton escolheu um desconhecido Ankh (et) Kheperure Nefernefernaton para o acompanhar na direcção do estado.
Segundo a egiptóloga belga Athena Van Der Perre, Ankh (et) Kheperure não é outra pessoa senão a própria Nefertiti que teria sucedido ao seu marido e reinado durante 3 anos sozinha após a morte deste. A partir desta reconstrução, uma das cartas descobertas em Amarna faz mais sentido: “Uma rainha solicita ao Rei Hitita Suppiluliuna que lhe envie um filho para, ao seu lado, ocupar o trono do Egipto.” Este príncipe foi assassinado antes de chegar à corte, o que terá possivelmente mudado o destino de Nefertiti à frente do Egipto. Pouco depois Tutankamon, tornar-se-ia Rei (A história de Tutankamon fica para outro “capítulo”).
De toda a informação que li e recolhi posso resumir que Akhenaton e Nefertiti reinaram como dois visionários, vanguardistas, resilientes e que lutaram pelas melhorias de vida de um povo, estando focados na nova religião do país e que foram perdendo algumas terras para os inimigos vizinhos, em parte por estarem mais preocupados a travar guerras internas com os adoradores de Amon.
Temos várias gravuras com demonstrações de afecto em família o que demonstra a importância da vida familiar. Temos também estátuas e bustos que quebram todos os “modelos” padronizados até então e por isso assumimos que são o mais fiéis à sua imagem, podemos dizer que a rigidez de outrora desvaneceu com o reinado deles.
Descobertas recentes em Março de 2013, de um cemitério comum em Amarna, com a análise de mais de 200 esqueletos pode-se verificar que a média de idades dessa cidade era muito baixa, entre os 16 e os 20 anos e pelos inúmeros esqueletos infantis concluiu-se que as crianças daquela cidade eram raquíticas, subnutridas e sofriam de escorbuto. Os seus esqueletos mostram a evidencia do uso constante dos músculos. Os esqueletos adultos encontrados também revelam doença degenerativa das juntas, provavelmente por puxarem cargas pesadas e cerca de dois terços desses adultos tiveram 1 ou 2 ossos partidos. Vértebras fracturadas e comprimidas eram comuns. Eram altos os níveis de danos causados por acidentes. As descobertas sugerem que a rápida construção de Amarna deve ter sido especialmente dura para os seus cidadãos. Baseado no tamanho padronizado dos tijolos encontrados em estruturas próximas, acredita-se que cada trabalhador carregava um bloco de pedra calcária com peso de 70 quilos num sistema semelhante ao de uma linha de montagem.
Com esta descoberta leva-me a crer que na antiguidade egípcia não se olhava aos meios para atingir os fins, por isso não consigo avaliar com esta informação se Akhenaton, como alguns historiadores defendem, era um faraó preocupado com o seu povo e de seguida não conseguia assegurar que em Amarna esse mesmo povo fosse devidamente cuidado. Acho que ainda temos muito por descobrir!
Depois do seu reinado acabar “tentaram” apagá-los da história. A cidade de Amarna foi abandonada e mais tarde sistematicamente destruída e apagada dos registos para rapidamente voltarem à religião antiga! As suas estátuas foram derrubadas e as pedras dos templos usadas como material para a construção de novos prédios. As rochas esculpidas foram escondidas para que ninguém voltasse a vê-los e isso acabou por preservá-las para a prosperidade. Na década de 1920 elas começaram a reaparecer e muito do que sabemos de Akhenaton e do culto a Aton vieram destas descobertas!
Especulações à parte, espero que tenham gostado deste resumo da “confusa” história destes dois.